Como Me Tornei Mãe - Relato de Parto Normal Hospitalar
A gravidez é um momento muito especial na
vida de uma mulher. Muitas mudanças acontecem no nosso corpo e na nossa vida
com a expectativa da chegada de uma criança e do papel de ser mãe.
Junto com a expectativa cresce também a
ansiedade e a incerteza quanto ao que está por vir, especialmente em relação ao
parto. Não é raro ouvirmos relatos terríveis de experiências trágicas quanto ao
parto normal, o que acaba por criar em nossa mente o conceito de que o parto cesariana
é mais seguro e mais fácil, então pra quê arriscar passar pelo trabalho de
parto e correr o risco de viver todo aquele horror com desfechos infelizes que
tanto nos contaram?
Eu passei por todos esses questionamentos
durante minha gravidez, mas dentro de mim existia uma vontade muito grande
trazer meu bebê ao mundo no tempo dele e de participar desse momento junto com
meu marido, de seguir meus instintos.
Sendo assim vou compartilhar com vocês minha
experiência de parto normal hospitalar.
Estávamos tentando engravidar havia um ano, e
durante este tempo precisei tomar alguns medicamentos, pois tenho Síndrome dos
Ovários Policísticos.
No dia 23 de agosto de 2013 recebemos nosso
tão sonhado positivo.
Tive uma gravidez tranquila, sem
complicações. Eu me preparava para o parto lendo diversos blogs sobre
maternidade ativa, parto humanizado e sempre que podia conversava com amigas e
pessoas que já eram mães.
Descobri que esperava um menino: Daniel. Ele
estava se desenvolvendo forte e saudável, porém apresentava posição pélvica
(sentado), o que costuma ser uma indicação para parto cesárea (mas não impossibilita o parto normal).
Conversando com minha médica soube que ele
poderia mudar de posição até a hora do parto, o que me tranquilizava. Já com 37
semanas fui ao pronto atendimento, pois estava com alguns desconfortos de final
de gravidez. Fui atendida pelo obstetra de plantão, que mais que depressa foi
agendando uma cesariana eletiva, devido ao bebê estar sentado. Perguntei se não
havia chances dele mudar de posição, pois eu ainda tinha tempo e uma
ultrassonografia estava marcada para a semana seguinte. Obtive como resposta
apenas um “não”.
Fiquei muito chateada, me sentido pressionada,
como se tivessem me tirando o direito de decidir sobre algo que era tão
importante pra nós, mas era tão banal para aquele médico! Conversando com meu
marido decidimos esperar pelo trabalho de parto e procurar outra maternidade e
assim fizemos.
No dia 03 de abril acordei com uma cólica
leve e percebi que havia perdido o tampão mucoso. Fui animada para a consulta
com a ginecologista que constatou que o bebê estava cefálico (de cabeça pra
baixo) e eu já estava com 1 cm de dilatação. No dia seguinte percebi que a
cólica estava se intensificando gradativamente. Saí com uma amiga no fim da
tarde para tomar um café e caminhar um pouco, o que ajudou a iniciar o trabalho
de parto.
Naquela noite não consegui dormir, pois não
encontrava uma posição confortável na cama. A cólica ficando mais intensa e frequente.
Às 3 da manhã, resolvi tomar banho para aliviar o desconforto e medir os
intervalos entre as dores (que só naquele momento percebi se tratarem de
contrações).
A água quente me ajudou a relaxar, então
voltei para a cama para tentar descansar um pouco. Meu marido colocou alguns
travesseiros nas minhas costas e debaixo dos meus pés e cochilei um pouco
sentada na cama.
De manhã observamos que o intervalo das
contrações era de 7 minutos e decidimos ir à maternidade depois do café da
manhã. Quando estava me arrumando para sair senti uma contração mais forte, e
minutos depois senti um líquido quente escorrendo pelas minhas pernas: Daniel
estava dando os sinais de sua chegada.
Ansiosos e alegres fomos para a maternidade,
que fica localizada em outro município. As contrações passaram a acontecer a
cada 5 minutos, às vezes menos.
Chegamos à maternidade e fomos rapidamente
encaminhados para avaliação com a plantonista: Estava com 6 cm de dilatação!
Nesse momento as dores já estavam mais fortes. Troquei de roupa e pedi para
ficar sentada enquanto aguardava meu marido que tinha ido preencher os papéis
da internação.
Fomos para a sala de pré-parto e conheci os
obstetras que iriam fazer meu parto. Eles vinham regularmente me examinar. Meu
marido ficou ao meu lado o tempo todo, fazendo massagem nas minhas costas e
cafuné quando as contrações vinham. Com 7 cm de dilatação pedi analgesia. Os
médicos colocaram ocitocina no meu soro para diminuir o intervalo das
contrações, que foram ficando cada vez mais intensas e frequentes.
Nesse momento, eu sentia muita dor e meu
corpo fazia uma força muito grande para empurrar o bebê para baixo. Estava
chegando a hora. De repente, após uma contração forte, senti o Daniel encaixando
no períneo. O anestesista chegou ao quarto para ver como eu estava e meu marido
pediu para que ele chamasse o obstetra para fazer o toque. Para a nossa
surpresa Daniel já estava coroando, pronto pra nascer.
Saímos apressados para a sala de parto. O
papai ansioso foi se preparar para o grande momento. Enquanto isso acontecia o
maior reboliço na sala de parto.
Um dos médicos me disse que o bebê já estava
com metade da cabeça para fora e que precisaria dar apenas um empurrão para ele
nascer. Me enchi de alegria, apesar da dor. Havia uma movimentação muito grande
na sala de parto. Me ajudaram a mudar de cama. Os médicos perguntavam: cadê o
pai? Eu respirei fundo e ouvi a voz do meu marido que acabara de entrar na
sala. Pensei: é agora! Fechei os olhos e ouvi os médicos dizendo: empurre!
Senti uma dor intensa e soltei um gemido
alto. Ouvi o médico dizer: Nasceu! Escutei então seu primeiro choro, alto e
vibrante. Abri os olhos, o colocaram imediatamente no meu colo.
Daniel chegou ao mundo no dia 05 de abril de
2014, às 14 horas. Nasceu rosado, cabeludo, com seus lindos olhos abertos,
pesando 3,250 kg e com 49 cm.
Coloquei a mão sobre sua cabecinha e nos
olhamos. Naquele instante esqueci a dor, era como se só existíssemos nós dois
na sala. Ele foi se acalmando ao ouvir o som da minha voz. Senti uma conexão
intensa com ele, como se tivéssemos selando um pacto apenas com aquele olhar.
Senti meu marido fazer cafuné e dizer um
emocionado “parabéns mamãe”. Foi um momento tão lindo. Nós dois havíamos nos
tornado pais.
A enfermeira pegou o Daniel, disse que iria
fazer os primeiros procedimentos e o traria de volta para mim. O papai se
despediu e foi acompanhá-lo. Fiquei mais algum tempo na sala, porque precisei
levar alguns pontos. A enfermeira me trouxe um cobertor, pois eu estava sentido
frio devido à anestesia.
Passados alguns minutos fui para outro quarto
e Daniel chegou lá ao mesmo tempo que eu. A enfermeira me ajudou a colocá-lo no
colo e começar a mamar. No nosso quarto e fomos recebidos pelo meu marido, meu
pai e minha irmã. Me senti realizada por ter passado pela experiência do parto
junto com meu marido e por poder estar junto do meu bebê logo que ele nasceu.
Fomos pra casa no dia seguinte. Hoje, seis
dias depois, sinto-me disposta e feliz por ter esperado o trabalho de parto e
ter tido o privilégio de ser atendida por uma equipe que respeitou minhas
escolhas.
Me chamou atenção que durante o tempo que
estive na maternidade (um famoso hospital materno infantil) todos os
profissionais que me atenderam me perguntaram se o parto normal tinha sido
escolha minha e alguns até me parabenizaram dizendo que esse tipo de parto se
tornara raro nos dias atuais.
Naquele dia apenas eu e outra mãe tivemos parto
normal naquela maternidade.
Espero que este relato incentive outras
mulheres a seguirem seus instintos e se prepararem para o parto de uma forma
mais ativa e menos medicalizada. Espero também que nenhuma mulher seja
manipulada ou coagida por médicos e pelo Estado a ter um parto que ela não
escolheu.
#SomosTodasAdelir
#SomosTodasAdelir
***Agradecimento especial ao meu marido
Edmilson Ferreira que me proporcionou a alegria de ser mãe e esteve ao meu lado
todo o tempo, a minha irmã Vanessa que veio do outro lado do mundo para viver
esse momento comigo e à amiga Juliana Daher e seu lindo Francisco que
compartilharam conosco sua experiência e me incentivaram a lutar por um parto
ativo.
Sites sobre Maternidade Ativa:
Emocionante Jack! Parabéns pela escolha e obrigada por nos fazer refletir! Saúde, amor e paz pra nova família!
ResponderExcluirque lindo, eu chorei, tem gente que fala que choro à toa, mas isso não é atoa... você sabe.... Ainda não passei por isso, mas só lendo vc contar,,, imagino esse momento, deve que o tempo paralisa...
ResponderExcluirChorei, né? Bom saber que a equipe do hospital te atendeu bem e respeitou a sua decisão. As coisas quando feitas com calma, com certeza fluem muito melhor. Bjooo
ResponderExcluirEmocionante! !! Parabéns pra vc e sua família linda e agora mais linda ainda com o daniel!!
ResponderExcluirEdmiro vocês em tudo!!!
Opa esse joao ai sou eu!!! Priscila.
ResponderExcluirParabéns!!! Lindo seu relato, alegre, positivo, verdadeiro. Mamãe do ano.
ResponderExcluirParabéns! Obrigado por compartilhar com o mundo a sábia decisão de deixar a natureza agir.
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